POR QUE NÃO CELEBRAR?
De repente, seu coração simplesmente parou de bater e, nesse instante sagrado,
toda dor, todo tormento, todo medo, toda limitação de um corpo desgastado e impotente,
desapareceram magicamente!
– “Posso voar!” – ela falou sem palavras, encantada com seu novo estado de ser.
Ninguém a ouviu, mas pude sentir sua alegria nesse momento de libertação e paz.
Nestes meus 68 anos de vida, tive a oportunidade de vivenciar as mais diversas
reações diante da morte de entes queridos… espanto, tristeza, revolta, medo e inclusive
aquela dor aparentemente impossível de ser superada, mas que o tempo acaba curando.
Chorei não só pelos meus, mas muitas vezes por pessoas que eu nem conhecia e
que se tornaram notícia devido ao seu fim trágico ou prematuro… segundo nosso ponto
de vista humano.
Entretanto, diante do falecimento da minha própria mãe, a única vontade que eu
tive foi a de agradecer, agradecer… e celebrar!
Numa fração de segundo, todo o sofrimento que presenciamos e vivemos junto
com ela nos últimos meses, todos os esforços que fizemos para lhe assegurar um mínimo
de conforto e dignidade, quando seu corpo já não obedecia aos comandos da sua
vontade; todo o carinho que seus filhos, netos e bisnetos lhe dedicaram, na esperança de
lhe trazerem um pouco de alegria… tudo isso passou pela minha mente como um raio, e
me fez suspirar aliviada – finalmente terminou!
E contra todos os padrões aceitos como socialmente corretos, chorei de alegria e
agradeci.
Então, perguntei a mim mesma: “Por que não celebrar…?” Celebrar uma vida
vivida plenamente, celebrar a merecida libertação no momento em que o corpo já
não consegue mais satisfazer as novas aspirações da alma, celebrar o milagre do
renascimento num estado superior de consciência… Celebrar, mesmo quando todos
esperam que você se apresente de preto e de óculos escuros para esconder os olhos
vermelhos e inchados de tanto chorar.
E me abri completamente à maravilhosa sensação de paz, que eu sabia estar vindo
dela, e permiti que meu coração me mostrasse sua nova imagem – jovem, bela, radiante
e leve como uma pluma, saltando alegremente para o espaço infinito, finalmente livre para
voar em direção aos Reinos de Luz, Amor e Paz.
E assim, silenciosa e amorosamente, brindei à sua partida…